PAIS

Filhos: Até que ponto os pais devem ser superprotetores?


Por Breno Rosostolato*

O exagero e o excesso de cuidados e zelo podem ocasionar problemas emocionais à criança.

Cuidar do filho, participar da vida dele, dialogar e orientar as questões que envolvem seu desenvolvimento psíquico e cognitivo, direcionar atitudes e comportamentos da criança, permitindo a livre escolha e alicerçando a autonomia do filho é um importante papel e dever dos pais. Mas o exagero e o excesso de cuidados e zelo podem ocasionar problemas emocionais à criança.

O aumento da violência, das drogas que cada vez mais cedo são apresentados aos jovens e das denúncias e crimes ligados a abusos sexuais vêm gerando um conflito interno aos pais. Ao mesmo tempo em que se deve proteger os filhos, os pais enfraquecem-se diante do medo e se deparam com as exigências intensas dos próprios filhos, que possuem necessidades específicas e estão inseridos em um momento tecnológico e imediatista, o que faz com que mães e pais adotem atitudes desesperadoras, em que a educação do filho passa a ser sufocante, ou então, sucumbem à estas pressões. O que se observa é que muitos pais sentem-se ameaçados e não conseguem assumir seu papel social e afetivo levando-os a transferir a educação dos filhos para tutores, parentes próximos e à escola. A escola, por exemplo, ensina, mas a educação, aquela que vem de “berço” é condição primordial dos pais.

Aos pais mais excessivos e ansiosos, uma maneira de contornar este conflito é aprisionar os filhos a eles, equipando as crianças com celulares, laptops, tablets, todos antenados e acessíveis apenas ao toque de um botão. Utensílios que diminui a independência e autonomia das crianças deixando-as medrosas e enclausuradas a proteção exacerbada dos pais. Outro excesso dos pais, e muito comum é quando a criança começa a andar e os pais ficam à sombra da criança para que ela não se machuque. Mas o ato de andar acontece através de tentativas e erros e assim deve ser o desenvolvimento psicomotos da criança, que vai cair e que vai insistir, até conseguir se equilibrar. Muito embora os pais se preocupem, deve-se dar vazão ao aprendizado espontâneo da criança que se constrói através da frustração que precede a recompensa.

Donald Woods Winnicott, famoso pediatra e psicanalista inglês, afirmava que todo individuo humano possui uma tendência inata para o amadurecimento e para tal, passa por algumas fases, são elas: a dependência absoluta, a fase de onipotência e a fase rumo à independência. Inicialmente mãe e bebê formam uma unidade, ou seja, vivem uma relação simbiótica, o que faz com que a mãe crie também um estado de dependência. É ai que entra a mãe suficientemente boa, que reconhece as necessidades da criança. Mas o estado de onipotência da criança é importante para a constituição de sua subjetividade e a transição para a independência, que culminará numa autonomia que é a aceitação do universo externo, não se limitando a mãe. Esta mãe deve desenvolver uma aceitação de sua frustração e desmistificar a ilusão de ter o filho pra si. Este fracasso materno é imprescindível para estabelecer papéis. O pai tem um papel primordial. Antes relegado apenas ao posto de provedor, hoje, já com uma nova configuração e assumindo outro papel. Enquanto que a mãe amamenta o filho, o pai deve amamentar a mãe. Apoiar e participar das decisões quanto à educação do filho. Sustentar os anseios do casal, evidenciando as dificuldades e procurando diminuí-las, além de promover o diálogo conjugal. O casal precisa se ajudar mutuamente, sem rivalidades e disputas. O pai será um interventor, quando for requisitado isso dele, dizendo não para a criança e para a mãe e sua omissão desorganiza a dinâmica desta família. O pai se sensibiliza e se mobiliza junto à esposa. É retrógrado o conceito de um pai como nos moldes de um sistema patriarcal, autoritário e impositivo.

A participação responsável dos pais será crucial para o desenvolvimento de capacidades no filho, da mesma forma que o exagero, excessos e omissões serão igualmente destrutivos a este desenvolvimento. Não existe uma medida certa, mas existe coerência e bom senso. Os pais devem “falar a mesma língua” para que ambos se sintam integrados a esta família. Questionamentos, dúvidas e culpa são sentimentos inevitáveis, mas construtivos e base para o crescimento pessoal.

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