PAIS

Falando sobre sexo com crianças de todas as idades


Por Breno Rosostolato

A partir dos quatro e cinco anos a criança inicia a famosa fase dos “por quês”. Perguntas como: “O que é?”, “Como é feito?” são comuns. É nesta fase que é essencial que os pais elucidem e forneçam as respostas, usando a linguagem adequada e deixando claro que essas coisas pertencem ao mundo dos adultos e farão parte da vida do filho no futuro. Com uma linguagem fácil e lúdica, quanto mais os pais demonstrarem a importância do filho e enfatizar o amor e carinho que sentem por ele, isso transmitirá segurança e acolhimento.

O ideal são os pais ficarem atentos e sensíveis às investidas da criança para reconhecerem a si e os outros. Os pequenos criam identificações e passam a se olhar através da observação aos pais ou quem está mais próximo dela. Imitam seus objetos de amor e repetem seus movimentos. É natural que a curiosidade pelo corpo dos pais se acentue nesta fase. Um pedido para tomar banho com os pais, é uma forma de a criança conhecer melhor quem são essas pessoas que cuidam dela. O reconhecimento acontece como num espelho.Sem apressar o ritmo dos filhos, os pais, aos poucos, podem explicar aspectos que possa ajudar a compreensão da criança sobre o nascimento e a gravidez. Mas nada deve acontecer com pressa e sem a exigência de informar tudo para a criança.

Evite explicações mirabolantes e fantasiosas como o da “cegonha”, mas a alusão à sementinha que sai do pênis do pai e entra na vagina da mãe pode ser usada sem problemas. Falar o nome correto dos órgãos do corpo humano ajuda a criança nomear partes do corpo. O pensamento nessa idade é fantasioso e egocêntrico, o que desperta interesse por histórias mágicas. Apelidar os genitais reforça estereótipos. Conceitos discriminatórios e até mesmo agressivos. Basta fazer uma comparação entre termos como “pau” e “pererequinha”. Além de agressivo, denota que “pau” é mais forte que “pererequinha” e é esta informação compreendida pela criança, homens são mais fortes que as mulheres.

É natural que a curiosidade pelo corpo dos pais se acentuar. Um pedido para tomar banho com os pais é uma maneira de a criança conhecer mais quem é a mãe e o pai. Assim, a criança passa a se reconhecer usando os pais como espelho. Sem estereótipos, conceitos preconceituosos e discriminatórios, os pais podem explicar sobre o corpo da mulher e do homem, mas sem privilegiar um o outro. As diferenças entre os meninos e meninas são fisiológicas. As questões de gênero, masculino e feminino devem ser respeitadas, mas deixando claro que meninos e meninas não são rivais e que não existe prevalência de um ou de outro. A criança deve ser estimulada a brincar e interagir com todas as outras crianças, sem distinção e que não há mal nisso.

Tocar e manipular os órgãos genitais pode acontecer. Muitos pais ao perceber isso se sentem constrangidos e resistem em abordar a criança para falar à respeito. O olhar moralista em nada ajuda e só cria distanciamento na família e cria-se censura e tabus. Para a criança conhecer o corpo é descobrir sensações agradáveis neste corpo. Este autoerotismo é necessário para a integração da criança. Não é adequado oprimir e proibir o comportamento, mas os pais devem ressaltar que é gostoso tocar esta região, mas que não é comum as pessoas fazerem isso na frente dos outros. A hora do banho pode ser um bom momento para isso.

Aos 8 anos a criança já presta atenção ao sexo oposto. É neste momento que os pais podem conversar com os filhos sobre a diferença entre homens e a mulheres, avançando um pouco mais no sentido de conversar com a criança sobre características de meninos e meninas. As diferenças físicas já são reconhecidas. A conversa com as crianças deve avançar no sentido de indicar que o pênis e a vagina são usados para gerar os bebês. Fase caracterizada por uma interrupção das atividades sexuais. O período de estabilidade é muito importante na aquisição de valores, regras e normas socialmente aceitos. As identificações construídas anteriormente como a mãe e o pai ajudam no desenvolvimento de características masculinas e femininas, logo, papéis sexuais. Esta construção se entende até os 11 anos e é uma preparação para ingressar na pré-adolescência e, portanto, início da puberdade.

Na adolescência, o objeto de desejo não está somente no próprio corpo, mas no outro. Nesse momento, em ambos os sexos, têm consciência de suas identidades sexuais e assim, começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades sexuais. A busca não é projetada aos pais, mas á outras pessoas e grupos que não sejam da família. A criança busca novas referências e consequentemente, se afasta dos pais para se vincular aos outros. Os pais devem dar espaço para o pré-adolescente. O diálogo deve ser constante, sem ser invasivo e agressivo e deve seguir no sentido de orientar, mas principalmente, passar confiança e segurança. Acolher o filho não é sufocá-lo. Preocupar-se demais, exigências e imposições prejudicam o desenvolvimento da criança, mas mimos em demasia são igualmente limitadores.

Importante, a educação sexual, primeiramente, deve partir dos pais. A escola é uma extensão do ambiente familiar, mas que abordará a sexualidade de maneira científica como aspecto fisiológico, o funcionamento e prevenção. Ainda assim, muitos pais não assumem responsabilidades que são deles e cobram da escola e professores esta função.

A sociedade está mudando significativamente e as mentalidades, pensamentos e opiniões das pessoas devem acompanhar este movimento. É necessário que pais e filhos estejam alinhados à estas mudanças e conversarem sobre estas transformações sociais. As famílias, por exemplo, são as evidências destas metamorfoses. É importante os pais mostrarem aos filhos outros modelos de família, até porque, o conceito de família vai se moldando às novidades. Reconsiderar antigas regras, rever conceitos sexuais é construtivo e enriquece o vínculo afetivo de pais e filhos. Aprender juntos é sempre melhor.

*Breno Rosostolato é psicólogo clínico, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM

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